02/03/2007 - 18:49
Pomar: "Que Bush não conte com o Brasil para ações imperialistas na região"
O presidente norte-americano George W. Bush chega ao Brasil no próximo dia 8, para uma visita de dois dias, trazendo na bagagem bem mais do que propostas para melhorar as relações comerciais entre os dois países, segundo consta da pauta oficial. Desgastado politicamente, fora e dentro de casa, Bush também usa o giro pela América Latina como estratégia para sair da defensiva e recuperar a ascendência dos EUA sobre o cone Sul do Continente, abalada após a eleição de vários governos de esquerda comprometidos com as causas da soberania popular, da igualdade social e da integração regional.
Neste sentido, tem significado especial sua passagem pelo Brasil, que, segundo analistas, seria visto como o país ideal para mediar eventuais conflitos entre os EUA e governos como o de Hugo Chávez, na Venezuela, e o de Evo Morales, na Bolívia.
Para Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, o Brasil pode, sim, cumprir o papel de “mediador”, mas sem abrir espaço às pretensões imperialistas norte-americanas. “Não contem com o Brasil para pressionar Cuba, Venezuela, Bolívia e o Equador”, avisa Pomar.
Em entrevista ao Portal do PT, o dirigente diz ainda que, dado caráter bélico dos EUA, a América Latina precisa estar “cotidianamente” preparada para todo tipo de agressão.
Para ele, a integração sul-americana e o estabelecimento de relações diplomáticas sólidas com o resto do mundo são mecanismo que ajudam a conter “a violência dos gringos”.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
Portal do PT: Qual o significado político da visita de Bush a países da América Latina, num momento em que vários deles reafirmam sua soberania e buscam na integração regional uma alternativa à histórica dependência norte-americana?
Valter Pomar: O governo Bush vive uma enorme crise. A invasão do Iraque transformou-se num impasse militar. As relações com a Rússia estão se deteriorando rapidamente. A crítica ao unilateralismo é cada vez maior, em todas as regiões. Na América Latina, os aliados dos Estados Unidos perderam a maior parte das eleições (no México, tiveram que apelar para a fraude). O projeto da Alca afundou, em parte devido à resistência popular e governamental latino-americana, em parte pela ausência de concessões por parte dos Estados Unidos. Os democratas ganharam as eleições parlamentares e devem ganhar as eleições presidenciais. Neste contexto, Bush busca sair da defensiva. Um exemplo disso é o aumento da pressão militar, tanto no Iraque quanto contra o Irã. Outro exemplo é esta visita a alguns países da América Latina, caso do México, da Colômbia, do Uruguai e do Brasil. Fala-se que por trás estaria o propósito de criar um eixo anti-Venezuela ou de buscar alternativas energéticas para a dependência que os EUA têm do petróleo. Minha opinião é que Bush vai ficar na vontade. Mas sempre devemos nos lembrar que uma coisa é o governo de plantão, outra coisa são os interesses de longo prazo dos Estados Unidos, que são uma nação imperialista há muito tempo.
Para muitos analistas, o governo Lula é o que tem mais condições, na América Latina, de mediar eventuais conflitos entre os interesses regionais e os dos EUA. Na sua opinião, o Brasil deve assumir este papel?
Não e sim. Explico: o continente americano é alvo, há mais de cinco séculos, dos interesses das grandes potências. Isto começou na época das colônias, com Espanha e Portugal, mas também França, Holanda e Inglaterra. A independência coincidiu com o aumento da influência inglesa. No final do século XIX em diante, cresceu a influência dos Estados Unidos, sob a qual ainda nos encontramos. Um de nossos objetivos estratégicos é acabar com a submissão do continente ao imperialismo em geral, e ao imperialismo norte-americano em particular. Atingir este objetivo envolverá um longo processo, que combinará diferentes formas de lutas: mobilizações sociais, eleição de novos governos (progressistas, nacionalistas, socialistas), desenvolvimento econômico com ampliação da igualdade, integração continental (aí incluída a integração de infra-estruturas econômicas, a integração política e cultural). Envolverá também revoluções, recurso indispensável aos povos que se encontram diante de situações inaceitáveis e de elites inamovíveis por outros métodos. Neste longo processo histórico, que durará várias décadas, haverá espaço para o conflito, para o impasse e também para a negociação. Neste sentido, o Brasil pode sim cumprir um papel de "mediador". Mas atenção: temos lado. Isto significa que podemos mediar, mas também devemos conflitar. E, quando eventualmente mediarmos, não o devemos fazer para abrir espaços aos Estados Unidos, mas sim para manter e ampliar os espaços da esquerda latino-americana. Hoje, na prática, isto significa, por exemplo: não contem com o Brasil para pressionar Cuba, Venezuela, Bolívia e o Equador. Para além disso, temos as relações comerciais entre os dois países, relações que – a exemplo da Venezuela, que é um grande fornecedor de petróleo para os EUA – nos interessam e que precisamos melhorar, a nosso favor.
O governo norte-americano não hesita em espalhar a guerra e em violar o direito internacional, bem como os direitos humanos, para defender seus interesses políticos e econômicos. Até que ponto a América Latina está livre desta ameaça? O fortalecimento da integração regional ajuda a afastar esse risco?
Os Estados Unidos em geral e o governo Bush em particular são de uma violência brutal. Nós só estaremos livres desta ameaça quando o povo norte-americano constituir um governo de esquerda e abrir um novo período na história daquele país. Até lá, precisamos estar preparados cotidianamente para todo tipo de agressão, desde as que se fazem longe (caso da guerra contra o Iraque e das ameaças contra o Irã), até as que se fazem perto (bloqueio contra Cuba, golpismo contra a Venezuela, tentativa de impor a Alca e tratados bilaterais etc.). Sem dúvida, a integração continental, em particular a integração sul-americana, constitui um meio importante de conter a violência dos gringos. Outro meio é o estabelecimento de relações diplomáticas sólidas com o resto do mundo, que enfrenta o mesmo problema: Rússia, China, continente africano, Europa.
De que maneira o PT irá participar das manifestações contra Bush durante sua passagem pelo Brasil?
Como fizemos em 2005, o PT apoiará as manifestações que os movimentos sociais estão convocando. O governo pode e deve receber o presidente Bush. Nosso partido pode e deve participar das mobilizações sociais contra o governo Bush.
João Paulo Soares, do Portal do PT
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Tuesday, March 06, 2007
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